Quando escolhi fazer EVS na Suécia e me candidatei para a Mullsjö Folkhögskola,
tinha mais ou menos uma ideia daquilo que procurava – viver o estilo de vida
escandinavo, colocar-me num contexto completamente diferente do português,
interagir com tantos estrangeiros quanto possível, viajar e aprender. O que
estava longe de saber é que fazer EVS em Mullsjö seria perfeito para
concretizar todos os meus objectivos.
A Folk School – não temos este conceito de escola em
Portugal, que acolhe alunos que já terminaram o Ensino Secundário mas por uma
razão ou por outra não desejam ir já para a Faculdade –, localiza-se numa
pequena elevação junto ao lago Mullsjön, e é composta por vários edifícios.
Rodeada por lagos e floresta, é um local belíssimo, agradável e acolhedor (os
quartos são grandes e confortáveis), onde todo o staff, do pessoal da cozinha
ao reitor, do meu tutor aos restantes professores, é muito simpático e
acessível. Aproximadamente 100 alunos vivem cá em permanência, num pequeno
campus. Os voluntários vivem com eles. A grande maioria dos alunos são suecos,
mas, por exemplo, este ano a escola também acolheu duas japonesas, uma
iraniana, uma eslovaca, um americano e uma americana e alguns finlandeses. Falo
apenas do campus! A escola é frequentada por pessoas que vieram dos mais
diversos locais, do Burkina Fasso à Polónia, da Hungria à Suazilândia, da Síria
ao Afeganistão. É, como vêem, uma verdadeira experiência internacional. E, ao
início, a curiosidade para com os voluntários é grande e torna-se relativamente
fácil estabelecer o primeiro contacto com toda a gente.
A escola faculta vários cursos, de fotografia a cerâmica, de pintura a
assistente social, de relações internacionais a formação para professores de
alunos que necessitam de cuidados especiais. Os voluntários têm o direito de assistir
às aulas de sueco para os alunos internacionais (nível básico, de sueco; aulas dadas em inglês), e toda a gente
na escola pareceu estar disponível para nos acolher nas mais diversas turmas –
o problema é as aulas serem dadas em sueco…
Do ponto de vista das tarefas do EVS, não poderia ser
mais livre de me dedicar ao que gosto. Devemos ajudar na cozinha uma vez por
semana (a cantina da escola está ao nível de um buffet de um óptimo hotel;
fiquei muito surpreendido com a qualidade; o pequeno-almoço é fantástico!), temos
de preparar e servir diariamente o FIKA (pausa para café da manhã) e abrir a
fair-trade shop (uma a duas horas por dia); mas o tempo livre abunda (mesmo) e somos
incentivados a criar actividades. Como vivo no campus, fiz facilmente amigos,
criei um cineclube (passo filmes uma vez por semana) e organizo jogos de voleibol e/ou basquetebol e/ou badminton
3 a 4 vezes por semana (contando com o fim-de-semana). Sim, temos um belo pavilhão
todo para nós. Além disso, durante o inverno patinei no lago gelado e
divertimo-nos imenso com a neve. Como disse, o tempo livre abunda. A forma como
dele desfrutas depende muito de ti.
O mesmo se passa com a nossa ligação aos alunos
(especialmente aos suecos). Após o primeiro contacto, no qual até é mais ou
menos provável serem eles a dar o primeiro passo, temos de ser nós a dar
segundo, o terceiro, o quarto e o quinto. E continuar a dar passos. Nunca
funciona, por exemplo, apenas criar uma actividade e a anunciar; é preciso construir relações
primeiro, ser tão social quanto possível no campus, ganhar a confiança deles. E convidar directamente os
estudantes para as actividades. E insistir. Com tempo, eles começam a aparecer
e, por exemplo, a partir de finais de Outubro (cheguei em final Agosto de 2015),
já tinha um grupo de amigos para fazer as actividades desportivas; outros, mais
pacatos, nunca falhavam o cineclube; outros começaram eles mesmos a convidar-me
para caminhadas. Hoje todo o campus é um grupo de amigos...
Com os professores é diferente: para além de simpáticos e
curiosos, convidam-nos para tudo, desde jantar em casa deles com a família ou ir
a um jogo de hóquei no gelo, até participar nas viagens organizadas pela turma
de Relações Internacionais (à conta delas, visitei a Bratislava, Budapeste e a
Bósnia – Tulza, Srebrenica e Sarajevo). Fazem tudo para nos sentirmos bem. Não
conseguiria exagerar ao descrever a sua simpatia. O mesmo se aplica ao director
da escola, que, tanto quanto me lembro, nunca disse um “não” ou sequer um “mas”
a qualquer nosso pedido. Pessoalmente, não poderia estar mais grato.
Para não terminar esta descrição sem fazer referência às, por assim dizer, possíveis
partes menos boas desta experiência, eu apenas aconselharia este EVS a pessoas
que gostem de neve e que sejam relativamente independentes, que não deprimam
quando solitárias. Primeiro, porque cai muita neve, aqui. Mesmo muita. Obviamente que podem
simplesmente ficar no quarto ou na biblioteca ou na sala de estar, locais
sempre quentes e confortáveis (passarão um Inverno menos frio que em Portugal,
garanto); mas a experiência de aqui viver é muito melhor se desfrutarem da
neve. Em segundo lugar, mesmo que criem relações, os suecos em geral gostam
muito de passar, diariamente, uma quantidade razoável de horas sozinhos, no seu
quarto. Se tens tendência a te aborrecer ou deprimir se não estás em convívio
constante, viver cá pode ter os seus dias negros.
Dito isto, seja o tipo de pessoa que fores, não consigo imaginar como fazer um
EVS aqui não seria uma experiência excepcional. Eu estou muito grato; e maravilhado!
Tenho imensa pena que termine em breve. Acredito que contigo acontecerá o
mesmo.