sexta-feira, junho 30, 2017

A aventura da Pierina no "On-Arrival Training" em Portugal



 Lembro-me do momento de chegar a casa, sim, porque essa é a primeira palavra que aparece na minha cabeça: casa. 
No início não era mais do que um lugar desconhecido mas as coisas mudam e nós próprios mudamos. Chegar e pensar que poderia desfrutar de ter um quarto próprio, sem ter que partilhá-lo com ninguém, com o temor de não conseguir integrar-me bem, de não saber o que estava à minha espera nesse lugar nem a quem iria encontrar nem o tipo de atividades que iria realizar. 
Para ser honesta imaginava estar todos os dias sentada num auditorio, com alguém a dar uma conferência num inglês perfeito, a toda velocidade, e eu a estresar para seguir o ritmo, sem muita motivação.
Felizmente, a formação à chegada foi todo o contrario. Desfrutei de cada dia enquanto aprendia coisas novas, enquanto aprendia a confiar naquelas pessoas que me resultavam estranhas, a não ser
tão fechada e a permitir-me ver esses corações tão bonitos. Aprender e descobrir que mesmo se somos de lugares completamente afastados somos tão parecidos como diferentes ao mesmo tempo. Estamos unidos pelos mesmos bons sentimentos e pelos desejos de termos um mundo melhor, de percorrer outros lugares e de continuar à procura de novas experiências, de dar o nosso melhor e de receber um bocado de felicidade nas suas distintas formas: uma simples palavra, um sorriso, uma lição ou uma linda amizade. Cada pessoa está à espera de encontrar-se à vontade e percebemos que a felicidade não chega apenas no que já conhecemos, mas no que ainda conseguimos descobrir. Não partilhamos apenas as coisas boas, mas também os medos e as preocupações, ajudando-nos mutuamente.
Aprendi que não existe impedimento nenhum para irmos à procura de coisas novas, que é bom termos medos porque eles nos fazem sentir mais orgulhosos quando conseguimos vence-los, que eles nos fazem sempre encontrar uma mão amiga e nos empurram a querer ser melhores.

O voluntariado é muito mais do que uma decisão, é a porta a uma nova etapa da tua vida, a uma nova e melhor versão de ti próprio. Mais do que uma decisão é um descobrimento, é um empurrão, um despertar, um fortalecimento e todo um crescimento global que faz com que uma pessoa brilhe mais e com que os anos passem e tenha valido a pena ter vivido algo diferente, ter aprendido de outras pessoas, das suas culturas de dos seus países. Ter aprendido que somos capazes de afrontar as dificuldades porque a língua não é um impedimento e mesmo se pode ser difícil devemos só encontrar formas, caminhos.
Alguém escreveu uma vez que caminhando em linha recta não se pode chegar muito longe e eu acho ademais que se desfruta muito mais das amizades que se entrelaçam com cada novo passo que damos.
Agora tenho um coração maior (e internacional), uma visão mais clara, uma mente mais forte e sábia, só com o pouco que já vivi. Ainda tenho mais para descobrir, tudo está em atrever-se e começar com um “porquê não?”.
Pierina Vargas, Voluntária SVE do Perú na Rota Jovem 
Erasmus + - Global Recognition project

segunda-feira, junho 12, 2017

Um mês de SVE... no Equador!


 Além de variada culturalmente, esta região é também muito diversificada biologicamente. Aqui, tudo tem vida. Os processos biológicos ocorrem com maior rapidez devido às altas temperaturas e à elevada humidade existente no ar… aqui a vida transpira!
O meu projeto de voluntariado está relacionado com agricultura biológica. É muito interessante trabalhar com a terra num lugar em que existe tanta vida. As plantas crescem mais rapidamente, tal como as pragas.
É curioso ver uma tarântula a caminhar pelo campo de futebol, e ninguém se preocupar com isso até porque, ao contrário do que eu pensava, não é um animal tão perigoso, porque afinal o seu veneno não mata, apenas é doloroso. É muito agradável acordar ao som  de  uma Arara-canindé  pousada  num  cabo  de  eletricidade  em  frente  da  minha habitação.
 
 Estou a viver numa comunidade rural. Os vizinhos, as crianças e os cães têm uma vida um pouco dura. As crianças vivem de uma maneira mais livre e são, por isso, de certo modo mais independentes… os cães imploram por comida com os ossos a sair pela pele. A província de Pastaza é a mais pobre de todas províncias equatorianas. As pessoas vivem de um modo muito simples e parecem ser felizes assim.
 
Passo a maioria dos dias aqui na comunidade. As crianças de manhã vão à escola, e voltam pela hora de almoço, esperando ansiosamente que as minhas colegas voluntárias abram a biblioteca. Eu, por vezes, estou na biblioteca planificando coisas, outras vezes estou pelo viveiro trabalhando na agricultura e, especialmente nos últimos dias, trabalhando com o composto que se está pela primeira vez a fazer aqui. Este composto vai ser utilizado para adubar o solo da estufa, e assim ajudar a produzir alimentos para a comunidade.


Um dos objetivos deste projeto é incentivar a comunidade a produzir os seus alimentos, e produzi-los duma maneira saudável para eles e para o meio ambiente. Tem o objetivo de promover a sustentabilidade ambiental e a auto-suficiência, para assim amenizar a pobreza local existente.
Por vezes, nestes meus trabalhos de agricultura, tenho a ajuda alegre das crianças. À terça-feira existe a Minga, que é um trabalho comunitário que tenta envolver as comunidades vizinhas neste projeto. Durante 3 semanas, na Minga, teve lugar um interessante Workshop com uma profissional em permacultura, que nos ajudou e orientou imenso neste duro trabalho de agricultura num clima tão intenso.


Às segundas-feiras temos tido a presença de umas queridas senhoras equatorianas que nos têm ensinado a cozinhar e dado a provar pratos tradicionais do Equador, tendo sido os meus preferidos os "Bolones de verde" e "Seco de pollo".

Para mim, esta experiência tem sido uma viagem... uma viagem por lugares e pessoas diferentes e bonitas e, mais que isso, tem sido uma viagem no Tempo. Tenho a impressão que existem algumas parecenças entre a presente realidade de aqui e a realidade do meu país há 50 anos atrás.
Etimologicamente, em inglês travel deriva do francês travail, que por sua vez tem origem no termo latino tripalium, que designa um instrumento de tortura. Viajar é partir rumo ao desconhecido e, dessa maneira,  perder a inocência”,  perder o nosso  conforto  e as nossas referências.
A viagem obriga-nos a assumir o desconforto, a solidão e a interromper a vida a que estamos habituados num determinado lugar. Viajar é essencialmente descobrir, descobrimo-nos a nós e o reflexo das nossas vidas nas etapas da viagem, assim como descobrirmos o outro sem o conforto das referências que nos são imediatas.
Não é só importante o que se vê, mas sim como se vê e o processo de transformação mental que ocorre e nos transforma.
Ana Luísa Sousa - Voluntária no Equador através do Projeto Global Recognition