Os países da América Latina têm um passado não escrito, um passado cujos principais protagonistas foram os povos originários que habitavam o continente desde tempos imemoriais e que deixaram para as futuras gerações um enorme legado cultural que ao longo do tempo e apesar das adversidades ainda hoje perdura. O idioma e as costumes ancestrais, os mitos e as histórias que foram contadas pelos avós dos avós continuam vivos em nós e continuarão vivos nos nossos filhos.
Há cinco meses atrás eu não tinha uma perspectiva muito clara de como é que as culturas estrangeiras veem os povos indígenas e os países considerados “em desenvolvimento”. A minha percepção estava focada apenas num ângulo e a minha curiosidade por compreender algo que não conhecia foi o que me empurrou a fazer esta viagem. Um projecto do Serviço Voluntário Europeu em Portugal foi a chave para lográ-lo e este é sem dúvida um país multicultural que abre as suas portas a milheiros de pessoas de todo o mundo: viageiros de passo, turistas, migrantes e pessoas que por diferentes motivos chegam a este formoso lugar da Europa. As oportunidades para criar conexões inimagináveis entre pessoas tão diversas e com histórias tão diferentes são tão grandes que conseguir perceber completamente cada história, cada pessoa, seria impossível. Existem cá habitantes de países remotos e culturas desconhecidas das que pouco ou nada se sabe nos países mais “desenvolvidos”. Existe também, portanto, uma falta de informação sobre esses assuntos que se traduz na adopção de estereótipos para referir-se a pessoas que chegam de países de África, Ásia e América Latina. E este fenómeno não acontece apenas em Portugal mas em todos os países do mundo em diferentes contextos e é sempre o forâneo, o desconhecido, aquel que tem outros hábitos ou formas de vida o que irá ter uma etiqueta colada no rosto. Pergunto-me, então, porquê não fazemos nada para acabar com este problema se a solução poderia ser muito simples.
Após uma longa luta de mais de 500 anos contra a aculturação, a injustiça e a discriminação, os movimentos indígenas fortalecem cada dia mais as suas raízes para poder afrontar estes conflitos e para ter um lugar importante nos processos sociais e culturais de cada país, evitando a exclusão e fomentando a interacção com outros sectores sociais, para conseguir assim uma visão mais ampla no contexto do mundo globalizado em que vivemos sem perder a essência que nos caracteriza e o valor do auto-reconhecimento.
O poder da comunicação, o acesso à informação e a empatia são a chave para deixar atrás os prejuízos culturais que só criam muros de ignorância entre as pessoas e nos impiden compreender que os estereótipos que nos etiquetam são apenas invenções duma cultura dominante obsoleta. Deveríamos melhorar a nossa interação numa comunidade mais diversa porque é através das pessoas que podemos conhecer distintas realidades sem necessidade de viajar e também aceitar que todos nalgum momento sentir-nos-emos desconhecidos ou foráneos quando estamos longe de casa.