sexta-feira, dezembro 19, 2014

Bruxelas - o centro da Europa?

Ir a Bruxelas, mesmo ao centro, traz-nos uma pluralidade de sons e idiomas que nos lembra a posição privilegiada de uma cidade habituada ao corropio constante de cidadãos de um todo o mundo. Os rumores da cidade trazem-se pela força das economias de escala, e o atractivo gerado pelas sedes das instituições europeias não passa despercebido a quem lá passa. Entrar no edifício do Parlamento Europeu e denotar expressões e fisionomias que facilmente (com alguma margem de erro) identificamos como provenientes de outras partes da Europa, reconhecer num sorriso de um estranho a hospitalidade típica de quem está habituado a receber ou entrar num edifício que se espera (e que claramente o é) multicultural e sermos recebidos inesperadamente por uma comitiva portuguesa dá um novo alento a esta análise e reforça a imagem e o protótipo que o sonho europeu pretende: fazer-nos sentir que a Europa é de todos, e que principalmente, é nossa também e a nós cabe preservar e governar. Mas será que isto é suficiente para tornar Bruxelas o centro da Europa?

Agora que já têm a nossa atenção, que tal dividirmos o tópico em duas partes diferentes e analisar a questão sob óticas diferenciadas?

1 - Geografia: Começando pelo país onde se insere, a Bélgica é sobranceira a França, Luxemburgo, Alemanha e Holanda. Com uma posição bastante centralizada, nada impedirá um crítico de dizer que talvez não seja o suficiente atendendo aos mais de 4 milhões de km² que compõem o espaço ocupado pela UE e os mais de 503 milhões de cidadãos que a completam. Integrar o desenvolvimento de serviços em prol da UE não implica meramente uma escolha de local aleatória, associada a processos logísticos, de mobilidade e de rápido acesso a recursos. Mas a localização da grande maioria dos organismos comunitários está definida há muito, e se analisarmos a conhecida Europa dos Seis (França, Bélgica, Itália, Países Baixos, Luxemburgo e Alemanha) que compunha a Comunidade do Carvão e do Aço em 1951, a Bélgica era de facto o centro de muitas tomadas de decisão. Ainda que na atualidade parte dos mecanismos comunitários se localizem em mais de um país - Luxemburgo, Frankfurt, Bruxelas, Estrasburgo (e no caso do Parlamento Europeu a presença de ações de trabalho seja tanto frequente em Estrasburgo como em Bruxelas) - Bruxelas é a cidade chave de associação ao projeto europeu, o que também se justifica pela concentração das sedes dos organismos comunitários. Mas será que numa Europa de tão extensa dimensão e num sonho de futuro coletivo já composto por 28 países ainda fará sentido esta localização dita central? A resposta não é de facto unânime mas os interesses e potenciais socioeconómicos de uma mudança não seriam certamente aceites por todos. E sem resposta unânime, não há alterações de tratados.

2 - Construção ideológica: Apesar de contabilizar já 64 anos (e uns bons ciclos de três gerações de novos cidadãos que cresceram segundo várias fases do projeto - dando uma visão diferenciada não só como base cronológica mas também de visão interna e externa ao processo), a ideia da Europa unificada ainda não é comummente aceite, tanto por intervenientes dos seus Estados-membros, como por acirrados críticos. Talvez os ideais e princípios inicialmente previstos não tenham sabido ir em diante ou a visão de quem procurava um certo determinismo utópico foi dilacerada por imposições mais realistas, mas o facto é que é impossível evitar ouvir referir propostas de referendo para uma saída da UE de alteração das estruturas de dependência (e aqui lembrem-se novamente do Tratado de Lisboa) e notar um certo crescimento de grupos eurocépticos. Mas em última instância, as vantagens de um Mercado Único e de uma libertação de barreiras continua a trazer mais vantagens do que desafios e a capacidade de tanto trabalharmos na Dinamarca como na Hungria relembra-nos que no fim de contas, se calhar a idealização não está errada mas sim alguns dos processos da sua condução (e este seria certamente um assunto para um novo artigo).

Resposta: Mais uma vez, a resposta não poderia ser comum, e nem disso aqui se trata. Para jovens como nós, a Europa da UE abriu portas e modificou vidas. Estudámos em novos países e vimos a nossa qualificação quase sempre reconhecida, viajámos por recreio e busca de conhecimento, assim como de novas oportunidades de emprego, festejámos vitórias conjuntas e momentos de abertura, construímos um ideal que nos permite falar mais do que um idioma num país onde o mesmo não seja natural e recrear (à semelhança dos mundi) um mini mapa real. Hoje tanto temos amigos espalhados por todo o espaço europeu, que já vivenciaram pelo menos uma experiência intercultural, e viajar de mala às costas passou a ser apenas uma alternativa entre muitas. Chegar a uma capital cosmopolita faz-nos mais rapidamente sentir em casa do que num país exterior e a existência de uma série de programas (o Erasmus, o Juventude em Ação, hoje em dia o Erasmus +) continuam a abrir portas, a fazer-nos cidadãos mais informados, esclarecidos, completos e com fome do mundo. As fronteiras já não são o limite. Nós somos o nosso limite. E se Bruxelas for visto como uma das bases deste movimento instigador de descoberta onde residem as instituições que o tornam possível, então Bruxelas é um bocadinho o centro da Europa.


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Chama-se Rota Jovem e é a menina dos nosso olhos. Irreverente, divertida, solteira e com muitos amigos internacionais, a Rota gosta de viajar, aprender novas línguas, conhecer pessoas de diversas culturas e de gastronomia! Se lhe lançares um desafio ela segue-te! Mas prepara-te que não desiste facilmente. É sonhadora e está sempre pronta para novas aventuras!
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sexta-feira, dezembro 12, 2014

Entrevista - Marta Freitas Lopes - Missão em Angola


Marta Freitas Lopes, Benguela, Angola
Hoje trazemos uma entrevista a uma jovem, Marta Freitas Lopes, jornalista da TVI que realizou uma missão em Angola, pelos Leigos para o Desenvolvimento. Marta conta-nos como correu a sua experiência nesta missão. Como se sentiu, a reacção da família, o projeto que integrou, os seus medos e o que mudou na sua vida quando regressou a Portugal!

Um exemplo a seguir!

ENTREVISTA - Marta Freitas Lopes

RJ: Como surgiu esta vontade de fazer uma missão?

MFL: Sem eu estar à espera, na verdade! Um amigo que tinha estado em missão pelos Leigos para o Desenvolvimento incentivou-me a ir conhecer o movimento, dizia-me que tinha tudo a ver comigo; eu fui, por curiosidade e pouco a pouco fui sentindo esse apelo a partir eu também.

RJ: Que tipo de projetos integraste nesta missão? Quais as tuas funções? E em que país estiveste?

MFL: Estive em Angola, em Benguela e o meu projecto principal era a alfabetização de jovens e adultos em vários bairros da cidade. Por causa da guerra, houve muita gente a não poder ir à escola, principalmente mulheres e a instrução faz toda a diferença na vida de uma pessoa, capacita-a! Eu era coordenadora do projecto, quem dava as aulas eram locais, isto porque o objectivo dos Leigos não é nunca criar dependência mas sim envolver e ensinar para que um dia os projectos possam prosseguir sem nós. Tudo o que fazia servia de testemunho enquanto cristã, mas além disso tinha também um projecto de pastoral, de formação humana, com jovens da Casa do Gaiato.

RJ: Que tipo de preparação tiveste?

MFL: Bom, nos Leigos as missões são de um ano, pelo que há uma formação durante todo o ano anterior à partida sobre aquilo que nos é proposto, o que deve ser o voluntariado, como é viver em comunidade, que tipo de projectos podemos integrar… Passados largos meses, durante um retiro de silêncio e oração, porque o crescimento na fé faz parte da formação, tomamos a nossa decisão de partir ou não, sem saber para onde, com quem e para fazer o quê. Se a nossa resposta for sim iniciamos então uma formação mais específica consoante o país e o projecto que nos coube.

RJ: Como é que a tua família e amigos reagiram a esta tua decisão?

MFL: Principalmente para a minha família não foi fácil entender. Já estava a trabalhar na altura e despedi-me para ir em missão; houve quem me tentasse dissuadir mas também houve quem me encorajasse. De qualquer forma, a minha decisão foi muito ponderada e eu sentia que aquele era o momento para aceitar aquele desafio.

RJ: Como foi para ti viver em condições diferentes das da nossa realidade?

MFL: De uma liberdade imensa. Propunha-me a uma vida de simplicidade, sabia que iria viver apenas com o essencial e é incrível como nos basta muito menos do que achamos precisar cá. Claro que tinha saudades de algumas coisas, como um banho quente! As pessoas lá vivem com pouco mas não é isso que é preciso mudar; o que lhes faz falta é um bom acesso à saúde e à educação, isso é o que mais custa, ver que não têm ferramentas para ter uma vida melhor, para usar as suas capacidades.

RJ: Do que é que te recordas desta experiência?

MFL: Da alegria natural das pessoas. Da sua generosidade e da forma acolhedora com que me receberam. De me deitar todos os dias exausta mas sentir que me gastava pelas razões certas. Das paisagens, do céu, dos cheiros, tudo tão intenso. De ter o coração cheio tantas vezes.

RJ: Tiveste medo de algo?

MFL: Na primeira noite, ainda em Luanda, senti-me muito indefesa, tive medo de não estar preparada para o que me esperava mas no dia a seguir, a caminho de Benguela, senti que estava a caminho de casa, ainda que não conhecesse nada ali. Houve também um episódio, na missa do galo, em que as pessoas se assustaram com um barulho e quando olhei para trás vinha uma multidão descontrolada a correr, tive que correr também para não ser atropelada, pensei que era um ataque qualquer, tive muito medo. Afinal não era nada, mas as pessoas têm o trauma da guerra… Partiu-se o menino Jesus e houve quem ficasse ligeiramente ferido, mas ainda acabámos todos na Igreja a rir de alívio.

RJ: Quando foste para esta missão qual era a tua situação profissional na altura? Influenciou a tua ida em missão?

MFL: Trabalhava na TVI e tentei negociar uma licença sem vencimento, mas como era nova – tinha 24 anos – e estava há pouco tempo na casa, isso não foi possível. Ainda assim, tive o apoio dos meus superiores para ir atrás deste sonho. Resolvi despedir-me por sentir que a ir em missão era naquela altura ou nunca, já que quantos mais anos de trabalho tivesse mais difícil seria tomar esta decisão.

RJ: O facto de seres licenciada ajudou na tua adaptação?

MFL: Uma das condições para se ir em missão através dos Leigos para o Desenvolvimento é ser-se licenciado, de forma a podermos partilhar o conhecimento específico da nossa área de formação nos países que nos esperam.

RJ: E quando regressaste sentiste que a tua reingressão no mercado de trabalho foi mais fácil?

MFL: No meu caso, acabei por recuperar o trabalho que tinha antes de partir. Como, apesar de me ter despedido, saí a bem e a TVI entendeu a minha motivação para sair, quando regressei de missão houve oportunidade de voltar e eu aceitei.

RJ: Como te sentiste depois de uma experiência desta dimensão? O que mudou em ti?

MFL: Senti que fiz parte de um trabalho a muitas mãos e no qual acreditei e continuo a acreditar – os Leigos são uma ONGD (Organização Não-Governamental de Cooperação para o Desenvolvimento) com 28 anos de história, por isso muitos voluntários passaram já por onde eu estive e outros hão-de seguir-se. Os projectos têm continuidade e assim a contribuição de cada um faz mais sentido. Depois, descobri que somos capazes de muito mais do que pensamos ser e esta é uma aprendizagem para a vida.

RJ: Recomendas este tipo de missão aos jovens? Que conselhos darias?

MFL: Claro que sim. Aconselho a abrirem-se às possibilidades que a vida vos apresenta ou a irem à procura delas, a seguir o vosso coração e a arriscar. É muito bom comprometermo-nos com um ideal e passar à acção. E recomendo também que desenvolvam a vossa capacidade de adaptação, ser-vos-á útil para tudo.

RJ: Estás ligada a algum tipo de associativismo?

MFL: Continuo ligada aos Leigos mas costumo dizer que o mais difícil até não é fazer o que fiz mas integrar o voluntariado na nossa vida de todos os dias, entre o trabalho, a família… Talvez seja essa a minha próxima missão!

RJ: Marta, muito obrigada por esta entrevista e muito sucesso para a tua vida!

MFL: Obrigada eu e que a vossa rota continue a mostrar caminho!

Agradecemos à Marta a sua disponibilidade para a realização desta entrevista! Esperamos que tenha sido uma inspiração para todos!

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Chama-se Isaura, mas todos a tratam por Isa. Muito curiosa, sonhadora e calma…é o que dizem! É apaixonada por livros, bibliotecas, séries de tv, viagens e por voluntariado. Qualquer dia escreve um livro e planta um árvore! Acredita no amor e na justiça. Cada dia é uma nova oportunidade para aproveitar a vida ao máximo e conhecer o mundo!
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quarta-feira, dezembro 10, 2014

Simon: "My EVS project is the answer for something"

Rocío didn't arrive alone to Portugal. Simon is going to be her colleague during the eight-months EVS adventure that is starting for them. And, of course, we wanted to speak also with him to know a bit more about how he became a volunteer and what he expects from the experience. Are you curious? Then just keep reading!

- Tell us a bit about you.
My name is Simon, I am 26 years old and I come from France. I have lived the last two years in Paris but actually I am from Amiens, in the North. I started to study Geography and then Psicology but I didn't like it, so I started to work in a travel company as a barman. After that I went back to college to study Law and Politic Sciences. I like the Administration Law and the International Public Law because it is interesting to know how our governments have to act in order to take decisions affecting all of us in different scales. That gives to me a bit of legitimacy to not believe in the system and see things in a different way.

- Why are you in Portugal?
I am here to do my EVS. I am going to work with children and teenagers in a small town called Cabeça Gorda. I chose this project because I really wanted to work with children, and I had the chance to choose between doing it here or in Greece. As the work language in the Greek project was supposed to be English, I chose this one to learn a new language. I didn't want to do administrative work right now, so I was looking for this kind of project.

- What are your motivations for the project? And your expectations?
My main motivation is to become a better person. I had the feeling that I needed to move from France and the project was the answer for something, but I still need to discover for what. I want to change my mind, change everything and discover new things. I am really motivated but actually I don't know exactly why. I am the kind of person who doesn't think too much before being in a new situation. I expect to speak good Portuguese in eight months, to meet new people and to be able to go until the end of the project, because I have the feeling that it is important for me.

- Do you have any previous experience as a volunteer?
Yes, I have already worked with children in an Parisian association as a volunteer. I helped them with their homework 3 or 4 hours per week and I stayed there for one year. It was my first experience working with kids, I liked them and I think that they also liked me.

- What is your first impression about Portugal and about Portuguese people?
In one month in Lisbon I have met very nice people. Portuguese are very respectful and girls are very pretty. I like history and Lisbon is a beautiful capital with a lot of history. Moreover, I am very happy with Rota's work with us and because I love my colleage, I am really glad because Rocío is here with me.

- What do you like to do in your free time?
I like reading books, watching drama series and now, also trying to speak Portuguese.




segunda-feira, dezembro 08, 2014

Rocío: "The EVS has a very important social dimension"

Rocío arrived to Portugal four weeks ago to start her EVS project in Cabeça Gorda, a small village in the heart of Alentejo region. She spent all the month with us to have a first contact with the Portuguese culture and we tried to get to know her a bit better. Here it is what she told us.

- Tell us a bit about you.
My name is Rocío and I am from Isla Cristina, in Huelva, Spain. I am 22 years old and I am a social worker. I love working with people and I think that everyone can contribute to the social welfare and struggle to overtake injustices, so being a social worker is my way to do it. I am an engaged person, I was part of the students association in my University to inform the students about the changes in the Spanish educational system and to encourage them to mobilise and participate in assemblies and demonstrations.

-Why are you in Portugal?
I am here to do my EVS project in Cabeça Gorda, in the Alentejo, during the next eight months. When I finished my studies in the University I had lots of doubts about my future and I started to look for alternatives. I got to know the EVS through a friend and it became a real option for me. I was searching during all the summer and when I found this project, I just loved it. I am going to work mainly with kids from 2 to 6 years old, organising extracurricular activities for them.

-What are your motivations and your expectations about the project?
My main motivation is the project itself, because it is related with my field. I am interested in all the social issues and I already have a previous experience working with youngsters between 12 and 18 years old, so this is a good chance to try to repeat the good experience that I lived. I can offer all my experience in the educative field and my fresh ideas to do nice things. I think that volunteering with kids should be cheerful and comforting because they are always happy and liven up the daily routine. And it is also positive for them to spend time with the volunteers because they can get used to the values of transnational cooperation and solidarity and approach to different cultures seeing the differences and the similarities between people from various origins. I trully believe that volunteering here is going to allow me to grow personally and professionally and learn a new language, so my aptitude is completely positive! The EVS has a social dimension which matches with my interests and aspirations. Moreover, I am very fortunate with my colleague Simon, we are going to be a great team.

-Do you have any previous experience as a volunteer?
Before coming here I was volunteering in two different projects: a social dining room and a dog's home. In the dining room you can see a lot of personal dramas and it is hard. I was there from August until now and we helped around 170 people per day. My work there was advise and guide people, and I decided to do it because I realized that it was really necessary. My work in the dog house was more sporadic to help feeding the animals and cleaning their space. I think that it is good to cooperate in this kind of iniciatives, now more than never.

- What do you like and what you don't like about Portugal?
There are many things that I like about Portugal! I love Lisbon, specially the architecture, with a lot of charming colourful buildings, and the gastronomy, which is great! I love the environment in the city, the melancholic but very lively aesthetic, the smell of sweets and chestnuts and the tramway. Portuguese people are very nice and much more polite and respectful than Spaniards, but also a bit more serious.

- What do you like to do in your free time?
When I have free time, I like reading. My favourite book is El rayo que no cesa, by Miguel Hernández and actually I love reading poetry thanks to him. I also like going out with my friends, watching movies (Edward Scissorhands, by Tim Burton, is my favourite one), running and travelling to discover new places. I also love animals, specially dogs, and music. My favourite song is Bellas, by Canteca de Macao, I strongly recommend it!