sexta-feira, dezembro 12, 2014

Entrevista - Marta Freitas Lopes - Missão em Angola


Marta Freitas Lopes, Benguela, Angola
Hoje trazemos uma entrevista a uma jovem, Marta Freitas Lopes, jornalista da TVI que realizou uma missão em Angola, pelos Leigos para o Desenvolvimento. Marta conta-nos como correu a sua experiência nesta missão. Como se sentiu, a reacção da família, o projeto que integrou, os seus medos e o que mudou na sua vida quando regressou a Portugal!

Um exemplo a seguir!

ENTREVISTA - Marta Freitas Lopes

RJ: Como surgiu esta vontade de fazer uma missão?

MFL: Sem eu estar à espera, na verdade! Um amigo que tinha estado em missão pelos Leigos para o Desenvolvimento incentivou-me a ir conhecer o movimento, dizia-me que tinha tudo a ver comigo; eu fui, por curiosidade e pouco a pouco fui sentindo esse apelo a partir eu também.

RJ: Que tipo de projetos integraste nesta missão? Quais as tuas funções? E em que país estiveste?

MFL: Estive em Angola, em Benguela e o meu projecto principal era a alfabetização de jovens e adultos em vários bairros da cidade. Por causa da guerra, houve muita gente a não poder ir à escola, principalmente mulheres e a instrução faz toda a diferença na vida de uma pessoa, capacita-a! Eu era coordenadora do projecto, quem dava as aulas eram locais, isto porque o objectivo dos Leigos não é nunca criar dependência mas sim envolver e ensinar para que um dia os projectos possam prosseguir sem nós. Tudo o que fazia servia de testemunho enquanto cristã, mas além disso tinha também um projecto de pastoral, de formação humana, com jovens da Casa do Gaiato.

RJ: Que tipo de preparação tiveste?

MFL: Bom, nos Leigos as missões são de um ano, pelo que há uma formação durante todo o ano anterior à partida sobre aquilo que nos é proposto, o que deve ser o voluntariado, como é viver em comunidade, que tipo de projectos podemos integrar… Passados largos meses, durante um retiro de silêncio e oração, porque o crescimento na fé faz parte da formação, tomamos a nossa decisão de partir ou não, sem saber para onde, com quem e para fazer o quê. Se a nossa resposta for sim iniciamos então uma formação mais específica consoante o país e o projecto que nos coube.

RJ: Como é que a tua família e amigos reagiram a esta tua decisão?

MFL: Principalmente para a minha família não foi fácil entender. Já estava a trabalhar na altura e despedi-me para ir em missão; houve quem me tentasse dissuadir mas também houve quem me encorajasse. De qualquer forma, a minha decisão foi muito ponderada e eu sentia que aquele era o momento para aceitar aquele desafio.

RJ: Como foi para ti viver em condições diferentes das da nossa realidade?

MFL: De uma liberdade imensa. Propunha-me a uma vida de simplicidade, sabia que iria viver apenas com o essencial e é incrível como nos basta muito menos do que achamos precisar cá. Claro que tinha saudades de algumas coisas, como um banho quente! As pessoas lá vivem com pouco mas não é isso que é preciso mudar; o que lhes faz falta é um bom acesso à saúde e à educação, isso é o que mais custa, ver que não têm ferramentas para ter uma vida melhor, para usar as suas capacidades.

RJ: Do que é que te recordas desta experiência?

MFL: Da alegria natural das pessoas. Da sua generosidade e da forma acolhedora com que me receberam. De me deitar todos os dias exausta mas sentir que me gastava pelas razões certas. Das paisagens, do céu, dos cheiros, tudo tão intenso. De ter o coração cheio tantas vezes.

RJ: Tiveste medo de algo?

MFL: Na primeira noite, ainda em Luanda, senti-me muito indefesa, tive medo de não estar preparada para o que me esperava mas no dia a seguir, a caminho de Benguela, senti que estava a caminho de casa, ainda que não conhecesse nada ali. Houve também um episódio, na missa do galo, em que as pessoas se assustaram com um barulho e quando olhei para trás vinha uma multidão descontrolada a correr, tive que correr também para não ser atropelada, pensei que era um ataque qualquer, tive muito medo. Afinal não era nada, mas as pessoas têm o trauma da guerra… Partiu-se o menino Jesus e houve quem ficasse ligeiramente ferido, mas ainda acabámos todos na Igreja a rir de alívio.

RJ: Quando foste para esta missão qual era a tua situação profissional na altura? Influenciou a tua ida em missão?

MFL: Trabalhava na TVI e tentei negociar uma licença sem vencimento, mas como era nova – tinha 24 anos – e estava há pouco tempo na casa, isso não foi possível. Ainda assim, tive o apoio dos meus superiores para ir atrás deste sonho. Resolvi despedir-me por sentir que a ir em missão era naquela altura ou nunca, já que quantos mais anos de trabalho tivesse mais difícil seria tomar esta decisão.

RJ: O facto de seres licenciada ajudou na tua adaptação?

MFL: Uma das condições para se ir em missão através dos Leigos para o Desenvolvimento é ser-se licenciado, de forma a podermos partilhar o conhecimento específico da nossa área de formação nos países que nos esperam.

RJ: E quando regressaste sentiste que a tua reingressão no mercado de trabalho foi mais fácil?

MFL: No meu caso, acabei por recuperar o trabalho que tinha antes de partir. Como, apesar de me ter despedido, saí a bem e a TVI entendeu a minha motivação para sair, quando regressei de missão houve oportunidade de voltar e eu aceitei.

RJ: Como te sentiste depois de uma experiência desta dimensão? O que mudou em ti?

MFL: Senti que fiz parte de um trabalho a muitas mãos e no qual acreditei e continuo a acreditar – os Leigos são uma ONGD (Organização Não-Governamental de Cooperação para o Desenvolvimento) com 28 anos de história, por isso muitos voluntários passaram já por onde eu estive e outros hão-de seguir-se. Os projectos têm continuidade e assim a contribuição de cada um faz mais sentido. Depois, descobri que somos capazes de muito mais do que pensamos ser e esta é uma aprendizagem para a vida.

RJ: Recomendas este tipo de missão aos jovens? Que conselhos darias?

MFL: Claro que sim. Aconselho a abrirem-se às possibilidades que a vida vos apresenta ou a irem à procura delas, a seguir o vosso coração e a arriscar. É muito bom comprometermo-nos com um ideal e passar à acção. E recomendo também que desenvolvam a vossa capacidade de adaptação, ser-vos-á útil para tudo.

RJ: Estás ligada a algum tipo de associativismo?

MFL: Continuo ligada aos Leigos mas costumo dizer que o mais difícil até não é fazer o que fiz mas integrar o voluntariado na nossa vida de todos os dias, entre o trabalho, a família… Talvez seja essa a minha próxima missão!

RJ: Marta, muito obrigada por esta entrevista e muito sucesso para a tua vida!

MFL: Obrigada eu e que a vossa rota continue a mostrar caminho!

Agradecemos à Marta a sua disponibilidade para a realização desta entrevista! Esperamos que tenha sido uma inspiração para todos!

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@ arrotante do momento!:




Chama-se Isaura, mas todos a tratam por Isa. Muito curiosa, sonhadora e calma…é o que dizem! É apaixonada por livros, bibliotecas, séries de tv, viagens e por voluntariado. Qualquer dia escreve um livro e planta um árvore! Acredita no amor e na justiça. Cada dia é uma nova oportunidade para aproveitar a vida ao máximo e conhecer o mundo!
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