Além de variada culturalmente, esta região é também muito diversificada biologicamente.
Aqui, tudo tem vida. Os processos biológicos ocorrem com maior rapidez devido às altas
temperaturas e à
elevada humidade existente no ar… aqui “a vida transpira”!
O meu projeto de voluntariado está relacionado com agricultura biológica. É muito
interessante trabalhar com a terra
num lugar
em que existe tanta vida. As plantas crescem
mais rapidamente, tal como as pragas.
É curioso ver uma tarântula a
caminhar pelo campo de futebol,
e ninguém se preocupar
com isso até porque, ao contrário do que eu pensava, não é
um animal tão perigoso, porque afinal o seu veneno não mata, apenas é doloroso. É muito agradável acordar ao
som de uma Arara-canindé
pousada
num cabo
de eletricidade em frente da
minha habitação.
Estou a viver numa comunidade rural. Os vizinhos, as crianças
e os cães têm uma vida
um pouco dura. As crianças vivem de uma maneira mais livre e são, por isso, de certo modo mais independentes… os
cães imploram por comida com
os ossos
a sair pela pele. A província de Pastaza é a mais pobre de todas províncias equatorianas. As pessoas
vivem de
um modo muito simples e parecem
ser felizes assim.
Passo a maioria dos dias aqui na comunidade. As crianças de manhã vão à escola, e voltam pela hora de almoço,
esperando ansiosamente que as minhas colegas voluntárias
abram a biblioteca. Eu, por vezes, estou na biblioteca planificando coisas, outras vezes
estou pelo viveiro trabalhando na agricultura e, especialmente nos últimos dias,
trabalhando com o composto que se está pela primeira vez a fazer aqui. Este composto
vai ser utilizado para adubar o solo da estufa, e assim ajudar a produzir alimentos para a comunidade.
Um dos objetivos
deste projeto é incentivar a comunidade a produzir
os seus alimentos, e produzi-los duma maneira saudável para eles e para o meio ambiente.
Tem
o objetivo de
promover a sustentabilidade ambiental e a
auto-suficiência, para assim
amenizar a pobreza local existente.
Por vezes, nestes meus trabalhos de agricultura,
tenho a ajuda alegre das crianças.
À terça-feira existe a Minga, que é um trabalho comunitário que tenta envolver
as comunidades vizinhas
neste projeto. Durante 3 semanas, na Minga, teve lugar um interessante Workshop com
uma profissional em permacultura, que nos ajudou e orientou
imenso neste duro trabalho de agricultura num clima
tão intenso.
Às segundas-feiras temos tido a presença
de umas queridas senhoras equatorianas que nos têm ensinado a cozinhar e dado a provar pratos tradicionais do Equador, tendo sido
os meus preferidos os "Bolones de verde" e "Seco de pollo".
Para mim, esta experiência tem sido uma viagem... uma viagem
por lugares e pessoas
diferentes e bonitas e, mais que isso, tem sido uma viagem no
Tempo. Tenho a impressão
que existem algumas parecenças entre a presente realidade de
aqui e a realidade do meu país
há 50 anos atrás.
Etimologicamente, em inglês travel deriva do francês travail, que por sua vez tem origem
no termo latino tripalium, que
designa um instrumento de tortura. Viajar é partir rumo ao
desconhecido e, dessa maneira, “perder a inocência”, perder o nosso conforto
e as nossas referências.
A viagem obriga-nos a assumir o desconforto, a solidão e a interromper a vida a que estamos
habituados num determinado lugar. Viajar
é essencialmente descobrir, descobrimo-nos a nós e o
reflexo das nossas vidas nas etapas da
viagem, assim como
descobrirmos o outro sem o conforto das referências
que nos são imediatas.
Não é só importante o que se vê, mas sim como se vê e o processo de transformação mental que ocorre e nos transforma.
Ana Luísa Sousa - Voluntária no Equador através do Projeto Global Recognition
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