A Susana continua o seu projeto SVE e traz-nos o testemunho de um mês super intenso! Lê o seu testemunho em baixo:
"O 5º mês foi um mix de descanso de projeto e cansaço de férias.
Na primeira semana chegou o João, o amigo português que veio visitar Creta
enganado pelos amigos polacos com quem vive. Aparentemente, o Jóão (como
os voluntários lhe chamavam) veio enganado. Caiu de páraquedas. Decidiu
ficar acampado no mesmo parque que nós, mas um pouco distante do local
onde estávamos (isto porque não nos é permitido trazer amigos para
dentro do acampamento). Lá tentámos visitar os pontos mais interessantes
da ilha, alugando um carro e trazendo alguns dos voluntários que tinham
os dias de folga connosco.
Dividimos o tempo entre visitar
locais e festas de despedida. Foi complicado ver colegas a ir embora tão
perto do fim do projeto, principalmente por serem bons colegas, uma
boa equipa. "No goodbyes. See you soon." Nas conversas de grupo e mesmo privadas muitos diziam o mesmo "It is ok to go home, it's the end of the project and there's so many people going away as well. I'm not sad. It's done." E a verdade é mesmo essa. Na semana seguinte fui eu.
Portugal
aqui vamos nós: foi a confusão. Em 9h de ferry sentada no sofá da sala de
convívio, acabei por fechar os olhos de tanto cansaço que tinha, e em 5
minutos tinha o empregado de mesa a resmungar comigo, dizendo que não
era permitido dormir ali antes das 11h. Fazer o quê? Lá tive de ver o
jogo de basket. 6 horas depois chegava a Lisboa. Ver amigos,
jantar com amigos e chegar a casa e ver os pais foi do melhor.
Basicamente nada mudou. Continua tudo no sitio, com as mesmas lojas
abertas/fechadas, os mesmo bares, as mesmas pessoas na rua. Tudo igual.
Quem mudou acho que fui eu. Dormir no quarto não fez grande diferença
(ainda) mas dormir na cama foi algo que ainda não me habituei. Quatro
dias depois regressava a Rethymno.
Terceira semana: já
era vista por todos como a semana dos últimos turnos. As últimas
monitorizações, os últimos ninhos, as últimas public awareness, os últimos dias de descanso, a última semana de kitty (sim
como a vinda do João e a ida para Portugal decidi voltar ao
sistema kitty da alimentação, pois fazia diferença ter de comprar tudo
de novo).
As monitorizações já não eram o que foram. Tínhamos cerca de 5
ninhos por sector. Por vezes caminhávamos cerca de 30 minutos ao longo
da praia, até vermos o primeiro ninho e outros tantos até vermos a outra
equipa. As escavações foram sendo efetuadas uma por dia, tendo bons
resultados e menos bons resultados, de tal forma que numa das vezes a
escavação feita por mim e assistida por Clem teve 33 tartarugas vivas
que conseguiram chegar ao mar cheias de energia.
As Information tables
foram praticamente o fracasso: poucas informações dadas, fruto de poucos
turistas. Safou-nos os pequenos-almoços e jantares à borla que os hotéis
proporcionavam aos voluntários durante aqueles dias. Digamos que
"enchemos a mula". No que toca à comida, a coisa foram diferente: os recursos
eram poucos, logo tínhamos de ser criativos. Calhou a mim e à Mel a
criatividade e saiu cozinha luso-francesa. Puré de batata e abóbora, a
acompanhar feijão com alho e sumo de laranja, couve salteada com ameixas
e finalmente salada grega. Bah, uma mistela de sabores que nem nós
sabíamos se ia resultar (o melhor de tudo é que resultou!: malta de
barriga cheia e cozinheiras contentes).
Fora o normal, tivemos a manutenção
das cages que pomos sobre os ninhos - basicamente é pintar
novamente, nada de especial. Dia de folga, lá fomos a Matala novamente e
Kournas Lake.
Finalmente chegou a última semana. Tivemos sorte
com a meteorologia e não choveu, pelo que a maior parte do pessoal não tirou os
dias de folga. Deu para conciliar os momentos de trabalho com o relax do
campismo, a limpeza e o empacotar, com criação de filmes e danças, o
acordar cedo com as ultimas idas para a balada. Mas, claro que há sempre
coisas que ninguém entende, como o desaparecimento de um dos telemóveis
das morning survey que levou a líder a exaltar-se e chegar mesmo
a gritar com todos os voluntários, ou como o buzinar matinal às 9h para
nos fazer levantar no último dia quando teríamos de estar a pé apenas
às 9h30. Enfim, são os últimos dias e não nos quisemos aborrecer com coisas
inexplicáveis. Lá fizemos o último quiosque, o último White Palace de
noite, o último Creta Star de manhã e a última escavação pública.
Confesso que não estava muito contente por ter de fazê-la, mas no fim
até que foi engraçado por duas razões: uma menina de 6 anos perguntou-me "Excuse me can I ask why are these people here?" e
ao explicar-lhe desatou a correr para chamar a amiga; e o sucesso do
ninho com 114 ovos bem sucedidos, 3 mortos e 5 tartarugas vivas para a
alegria dos turistas.
No fim, nem tive tempo para comprar
lembranças. Foi empacotar tudo e lá nos sentámos nos sofás da "sala de
convívio" pela última vez. Últimas fotos e partimos para Souda onde
apanhámos o ferry em direção a Porto de Piraeus. Os resistentes da
equipa seria eu, Boris e Tim, para além das líderes. Passámos a noite a
jogar às cartas até que adormecemos os três no chão alcatifado da
recepção do ferry. Por volta das 6h da manhã, atracámos no porto e caiu
uma carga d'água. Que seca! Pensei eu, levem-me de volta. Chegámos ao
Rescue Centre e tivemos de esperar cerca de 1h para que alguém abrisse a
porta, aparentemente ninguém que estava a trabalhar lá sabia a
que horas iríamos chegar. Decidimos os três tomar o pequeno-almoço e
pela 1h da tarde ir a Atenas deixar Tim no hostel. Somente eu iria
ficar no Rescue Centre. Explorámos um pouco a cidade e regressámos antes
da carga de água que colocou Atenas que nem Veneza, um rio cinzento e
lamacento. Ao que parece, a cidade não foi feita para a chuva.
Ontem foi o
dia de folga para mim e dia de partida de Boris. Pela manhã,
despedia-me dele e pela tarde explorava a arte urbana com Tim e Flo
(uma voluntária francesa do RC). No final da tarde lá foi o "see you
soon" de Tim. Enfim, cá estou eu; a última da família por mais 4
semanas. Para já, são dias de férias mas é já amanhã que ponho mãos ao
trabalho."