quinta-feira, outubro 08, 2015

Entrevista - Rita Sacramento Monteiro - Voluntária num Centro de Acolhimento de Refugiados


Olá pessoal arrotante! Hoje trazemos uma entrevista! Rita Sacramento Monteiro, mestre em Ciências da Comunicação fez voluntariado durante 20 dias num Centro de Acolhimento a Refugiados, na Sicília, em Itália. Depois dessa experiência, a Rita conta-nos como foi.

1. Como surgiu esta ideia e o que te motivou a seres voluntária num centro de Refugiados?
Há uns meses atrás, quando começaram a surgir cada vez mais notícias sobre o que se estava a passar no Mediterrâneo, soube de um campo de trabalho de apoio aos refugiados em Ragusa, na Sicília. Este campo é uma iniciativa das Comunidades de Vida Cristã (CVX) da Europa, às quais eu pertenço e que estão ligadas aos Jesuítas, e está a ser desenvolvido em parceria com a Fundação San Giovanni Battista que é responsável por 7 centros de acolhimento aos migrantes que chegam a Itália pelo Mediterrâneo. Senti que era uma oportunidade de fazer mais por uma causa que me tinha interpelado. As imagens de homens, mulheres e crianças a arriscarem a vida no mar para chegarem à Europa estavam cravadas no meu coração e na minha cabeça. Queria conhecer estas pessoas, queria ver de perto com os meus olhos e com o meu coração. Queria poder ajudar.

2. Que tipo de actividades desenvolveram no Centro de Refugiados?
O Centro onde estive a trabalhar como voluntária chama-se Canicarao, e é um centro onde vivem cerca de 40 homens (africanos e bengaleses) que aguardam para fazer o pedido formal de asilo, bem como a resposta a esse pedido. O objetivo destes centros é a recepção integrada, ou seja, depois do acolhimento de emergência nos portos onde chegam, o mais importante é preparar estas pessoas para a inclusão e para os próximos passos. Ajudá-las com os processos legais, mas ainda, proporcionar-lhes formação em língua e cultura italiana, bem como atividades culturais e educativas, e tudo aquilo que possa contribuir para que enfrentem melhor a nova realidade.
Durante o tempo em que estivemos no centro ajudámos com as aulas de italiano, participámos nos jogos de futebol, jogámos muito ping pong, e ainda propusemos novas atividades como aulas de inglês, um laboratório de construção e pinturas, e um laboratório cultural. Mas sobretudo, conversámos muito com estes homens sobre a vida, o futuro, o amor, as nossas famílias e a nossa terra.

3. O que mais te marcou nesta experiência? O que sentiste ao participar nesta iniciativa?
Tantas coisas me marcaram!... Aliás, sabia que dificilmente viria igual desta experiência. Sinto que o meu coração expandiu e nele cabem agora de maneira ainda mais próxima todos estes homens, mulheres e crianças que conheci.
Marcou-me muito perceber as camadas de sofrimento associadas à viagem e à vida destes homens. Abalou-me ouvir contado por eles aquilo que se passa na Líbia, e perceber as marcas interiores e exteriores daquilo que atentou contra a dignidade deles. Fiquei a pensar nos desequilíbrios, nas injustiças, no desrespeito pelos Direitos Humanos, tão flagrantes ainda hoje e tão reais em grande parte do mundo.
Além-fronteiras, além culturas, além idades, além línguas, tive a certeza que ansiamos todos pelo mesmo: amar e ser amados. É preciso lembrarmo-nos disso para não perdermos a nossa humanidade.

4. Consideras importante o voluntariado? Porquê?
Há muitos anos que sou voluntária "cá dentro", na minha comunidade e em movimentos e projetos que me interpelam. Sou escuteira e o serviço ao próximo faz parte dos valores do nosso Movimento. Aprendi e cresci sempre com todas as experiências de voluntariado, de serviço aos outros. Porquê? Porque com o outro aprendemos mais sobre a vida, sobre o mundo, sobre nós. Descobri coisas para as quais tenho jeito e que me fazem feliz. E descobri que somos todos diferentes, mas que há um sentido muito forte na partilha e no trabalho em conjunto. Aliás, estou convencida que é o único sentido. Sermos voluntários, onde e como quer que seja, é estarmos abertos e disponíveis para o que nos rodeia. É sermos cidadãos comprometidos.

5. Que mensagem queres deixar aos nossos leitores que querem ter uma experiência deste género?
Que arrisquem conhecer o outro. Que arrisquem dar a mão a quem precisa, sorrir a quem passa por nós. A começar nas nossas comunidades. Que não se resignem, nem fiquem pelo que é fácil e confortável. E depois que sonhem! Sonhem muito com novas formas de fazer mais e melhor. E finalmente, que arregacem as mangas e trabalhem a sério por um mundo de pessoas felizes, de pessoas dignas, de pessoas em paz.







Muito obrigada à Rita por partilhar a sua experiência!

Saudações arrotantes!!

@ arrotante do momento!:




Chama-se Isaura, mas todos a tratam por Isa. Muito curiosa, sonhadora e calma…é o que dizem! É apaixonada por livros, bibliotecas, séries de tv, viagens e por voluntariado. Qualquer dia escreve um livro e planta um árvore! Acredita no amor e na justiça. Cada dia é uma nova oportunidade para aproveitar a vida ao máximo e conhecer o mundo!

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