O escritor João Tordo esteve em Cascais e a Rota Jovem não quis perder a oportunidade de ir ao seu encontro para conhecer um bocadinho melhor o vencedor do Prémio Saramago 2009. Com ele falámos do seu novo romance, do ofício de escritor, de música e sobretudo, de livros. Interessante, não é? Pois continua a ler!
Apesar de ser uma tarde de sábado pouco aprazível, com o céu enublado e o frio glacial a açoitar com dureza, ficaram poucos lugares vagos no espaço habilitado para a palestra. As pessoas foram chegando pouco a pouco, o João começou a falar e o ambiente foi-se tornando cada vez mais literário. Desde o início do seu percurso há já quase dez anos com a novela O Livro dos Homens sem Luz, a sua trajectória tem sido um contínuo "in crescendo", com o ponto culminante em 2009, em que o seu romance As Três Vidas foi o vencedor do Prémio Saramago. "A minha vida literária teria sido diferente se não tivesse ganho o Saramago, dá imensa visibilidade. Por cima, o prémio fornece um colchão que te salva nessa necessidade de escrever". Mas isso também tem a sua parte menos positiva, como ele próprio reconhece. "O livro seguinte é muito esperado", o que implica muita pressão. "Depois do prémio, não saí de casa durante dois meses, não conseguia escrever".
Mas foi precisamente a sua situação pessoal que se transformou no começo do romance que se seguiu, e o livro começou a escrever-se. "O Bom Inverno foi terapêutico para mim, mas saiu de uma situação que não foi fácil". De facto, é de personagens ou situações reais que o seu processo criativo se fornece, acabando por haver sempre nos seus romances pessoas reais que fazem parte da sua vida. "Se eu como escritor não fizesse plágio da realidade, ía fazer de o quê? Não quero ler um livro de um escritor que não coloque nada de seu lá". E esta é uma premissa que se cumpre também no seu novo romance, Biografia involuntária dos amantes, que chega às livrarias a 2 de Abril. Uma das personagens está inspirada no irmão de seu pai, que durante os anos 70 era contrabandista de vídeos e morava entre Portugal e a Galiza. Este foi o ponto de partida da história e é também por isso que boa parte do livro tem lugar em várias localizações entre Vigo e Compostela. Além disso, ele não pode (nem quer) esconder uma especial paixão por esse cantinho da Península Ibérica tão próximo de Portugal. "Passei um tempo numa residência literária em Brión (A Coruña) e recorri a vários lugares da ria de Arousa na busca de inspiração. Gosto mesmo muito da Galiza".
O processo criativo foi assim, um dos temas transversais e recorrentes que foram aparecendo de jeito natural durante o encontro, mas o autor também falou da profissão de escritor, um ofício "como qualquer outro, com as suas chatices e com pouquíssimos momentos de prazer". No entanto, reconhece que tem também um lado mais próximo ao público enquanto os romances são completados pelo leitor, e porque "ter pessoas num sábado à tarde a querer escutar sobre o meu ofício" não é qualquer coisa habitual.
Para além da sua ocupação com a escrita, que é para já a sua actividade principal, João Tordo tem outros trabalhos entre os que se contam a tradução, as aulas de escrita criativa e os inevitáveis compromissos com a editora. É um trabalho associado à escrita mas independente dela que lhe permite dispor de três meses ao ano plenamente dedicados para escrever. "Se tivesse um trabalho das 9 às 5 não conseguia escrever livros". Da sua nova etapa após ter mudado de editora fala com entusiasmo, tal como o faz quanto ao design das capas, dos escritores e dos livros dos que gosta (o escritor espanhol Javier Marías e o clássico de George Orwell 1984 estão entre os seus preferidos). Mas também fala de cinema, porque embora escreva "de uma maneira muito visual", é reticente à adaptação cinematográfica pelas grandes diferenças que há entre as linguagens literária e cinematográfica. E fala também de música, porque de facto ele faz parte do projecto musical The Loafing Heroes, que lhe ajuda a completar a solidão que o seu ofício às vezes implica com uma actividade partilhada, em contacto com outras pessoas e que já tem animado muitas noites lisboetas nos seus dois anos e meio de vida em Portugal.
E o fim da tarde e da palestra chegou também animado, com o ambiente já mais aquecido pelas palavras e a conversa. Agora só resta esperar até o próximo mês de Abril para descobrir o que João Tordo tem para nos oferecer neste seu sétimo romance com o que promete, como sempre, revelar-nos também algo dele próprio.
Dizem os que a conhecem que a Elena é obcecada e inquieta, mas também entusiasta e perfeccionista. Ela, que também se conhece um bocadinho, diz que é, sobretudo, curiosa. É por isso que gosta de espreitar, de escrever, de experimentar. É por isso que adora cinema, leitura, viagens. E, se calhar, é também por isso que é voluntária, porque há poucas maneiras melhores para descobrir e pôr-se a prova do que isso. |
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