Ir a Bruxelas, mesmo ao centro, traz-nos uma pluralidade de sons e idiomas que nos lembra a posição privilegiada de uma cidade habituada ao corropio constante de cidadãos de um todo o mundo. Os rumores da cidade trazem-se pela força das economias de escala, e o atractivo gerado pelas sedes das instituições europeias não passa despercebido a quem lá passa. Entrar no edifício do Parlamento Europeu e denotar expressões e fisionomias que facilmente (com alguma margem de erro) identificamos como provenientes de outras partes da Europa, reconhecer num sorriso de um estranho a hospitalidade típica de quem está habituado a receber ou entrar num edifício que se espera (e que claramente o é) multicultural e sermos recebidos inesperadamente por uma comitiva portuguesa dá um novo alento a esta análise e reforça a imagem e o protótipo que o sonho europeu pretende: fazer-nos sentir que a Europa é de todos, e que principalmente, é nossa também e a nós cabe preservar e governar. Mas será que isto é suficiente para tornar Bruxelas o centro da Europa?
Agora que já têm a nossa atenção, que tal dividirmos o tópico em duas partes diferentes e analisar a questão sob óticas diferenciadas?
1 - Geografia: Começando pelo país onde se insere, a Bélgica é sobranceira a França, Luxemburgo, Alemanha e Holanda. Com uma posição bastante centralizada, nada impedirá um crítico de dizer que talvez não seja o suficiente atendendo aos mais de 4 milhões de km² que compõem o espaço ocupado pela UE e os mais de 503 milhões de cidadãos que a completam. Integrar o desenvolvimento de serviços em prol da UE não implica meramente uma escolha de local aleatória, associada a processos logísticos, de mobilidade e de rápido acesso a recursos. Mas a localização da grande maioria dos organismos comunitários está definida há muito, e se analisarmos a conhecida Europa dos Seis (França, Bélgica, Itália, Países Baixos, Luxemburgo e Alemanha) que compunha a Comunidade do Carvão e do Aço em 1951, a Bélgica era de facto o centro de muitas tomadas de decisão. Ainda que na atualidade parte dos mecanismos comunitários se localizem em mais de um país - Luxemburgo, Frankfurt, Bruxelas, Estrasburgo (e no caso do Parlamento Europeu a presença de ações de trabalho seja tanto frequente em Estrasburgo como em Bruxelas) - Bruxelas é a cidade chave de associação ao projeto europeu, o que também se justifica pela concentração das sedes dos organismos comunitários. Mas será que numa Europa de tão extensa dimensão e num sonho de futuro coletivo já composto por 28 países ainda fará sentido esta localização dita central? A resposta não é de facto unânime mas os interesses e potenciais socioeconómicos de uma mudança não seriam certamente aceites por todos. E sem resposta unânime, não há alterações de tratados.
2 - Construção ideológica: Apesar de contabilizar já 64 anos (e uns bons ciclos de três gerações de novos cidadãos que cresceram segundo várias fases do projeto - dando uma visão diferenciada não só como base cronológica mas também de visão interna e externa ao processo), a ideia da Europa unificada ainda não é comummente aceite, tanto por intervenientes dos seus Estados-membros, como por acirrados críticos. Talvez os ideais e princípios inicialmente previstos não tenham sabido ir em diante ou a visão de quem procurava um certo determinismo utópico foi dilacerada por imposições mais realistas, mas o facto é que é impossível evitar ouvir referir propostas de referendo para uma saída da UE de alteração das estruturas de dependência (e aqui lembrem-se novamente do Tratado de Lisboa) e notar um certo crescimento de grupos eurocépticos. Mas em última instância, as vantagens de um Mercado Único e de uma libertação de barreiras continua a trazer mais vantagens do que desafios e a capacidade de tanto trabalharmos na Dinamarca como na Hungria relembra-nos que no fim de contas, se calhar a idealização não está errada mas sim alguns dos processos da sua condução (e este seria certamente um assunto para um novo artigo).
Resposta: Mais uma vez, a resposta não poderia ser comum, e nem disso aqui se trata. Para jovens como nós, a Europa da UE abriu portas e modificou vidas. Estudámos em novos países e vimos a nossa qualificação quase sempre reconhecida, viajámos por recreio e busca de conhecimento, assim como de novas oportunidades de emprego, festejámos vitórias conjuntas e momentos de abertura, construímos um ideal que nos permite falar mais do que um idioma num país onde o mesmo não seja natural e recrear (à semelhança dos mundi) um mini mapa real. Hoje tanto temos amigos espalhados por todo o espaço europeu, que já vivenciaram pelo menos uma experiência intercultural, e viajar de mala às costas passou a ser apenas uma alternativa entre muitas. Chegar a uma capital cosmopolita faz-nos mais rapidamente sentir em casa do que num país exterior e a existência de uma série de programas (o Erasmus, o Juventude em Ação, hoje em dia o Erasmus +) continuam a abrir portas, a fazer-nos cidadãos mais informados, esclarecidos, completos e com fome do mundo. As fronteiras já não são o limite. Nós somos o nosso limite. E se Bruxelas for visto como uma das bases deste movimento instigador de descoberta onde residem as instituições que o tornam possível, então Bruxelas é um bocadinho o centro da Europa.
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Agora que já têm a nossa atenção, que tal dividirmos o tópico em duas partes diferentes e analisar a questão sob óticas diferenciadas?
1 - Geografia: Começando pelo país onde se insere, a Bélgica é sobranceira a França, Luxemburgo, Alemanha e Holanda. Com uma posição bastante centralizada, nada impedirá um crítico de dizer que talvez não seja o suficiente atendendo aos mais de 4 milhões de km² que compõem o espaço ocupado pela UE e os mais de 503 milhões de cidadãos que a completam. Integrar o desenvolvimento de serviços em prol da UE não implica meramente uma escolha de local aleatória, associada a processos logísticos, de mobilidade e de rápido acesso a recursos. Mas a localização da grande maioria dos organismos comunitários está definida há muito, e se analisarmos a conhecida Europa dos Seis (França, Bélgica, Itália, Países Baixos, Luxemburgo e Alemanha) que compunha a Comunidade do Carvão e do Aço em 1951, a Bélgica era de facto o centro de muitas tomadas de decisão. Ainda que na atualidade parte dos mecanismos comunitários se localizem em mais de um país - Luxemburgo, Frankfurt, Bruxelas, Estrasburgo (e no caso do Parlamento Europeu a presença de ações de trabalho seja tanto frequente em Estrasburgo como em Bruxelas) - Bruxelas é a cidade chave de associação ao projeto europeu, o que também se justifica pela concentração das sedes dos organismos comunitários. Mas será que numa Europa de tão extensa dimensão e num sonho de futuro coletivo já composto por 28 países ainda fará sentido esta localização dita central? A resposta não é de facto unânime mas os interesses e potenciais socioeconómicos de uma mudança não seriam certamente aceites por todos. E sem resposta unânime, não há alterações de tratados.
2 - Construção ideológica: Apesar de contabilizar já 64 anos (e uns bons ciclos de três gerações de novos cidadãos que cresceram segundo várias fases do projeto - dando uma visão diferenciada não só como base cronológica mas também de visão interna e externa ao processo), a ideia da Europa unificada ainda não é comummente aceite, tanto por intervenientes dos seus Estados-membros, como por acirrados críticos. Talvez os ideais e princípios inicialmente previstos não tenham sabido ir em diante ou a visão de quem procurava um certo determinismo utópico foi dilacerada por imposições mais realistas, mas o facto é que é impossível evitar ouvir referir propostas de referendo para uma saída da UE de alteração das estruturas de dependência (e aqui lembrem-se novamente do Tratado de Lisboa) e notar um certo crescimento de grupos eurocépticos. Mas em última instância, as vantagens de um Mercado Único e de uma libertação de barreiras continua a trazer mais vantagens do que desafios e a capacidade de tanto trabalharmos na Dinamarca como na Hungria relembra-nos que no fim de contas, se calhar a idealização não está errada mas sim alguns dos processos da sua condução (e este seria certamente um assunto para um novo artigo).
Resposta: Mais uma vez, a resposta não poderia ser comum, e nem disso aqui se trata. Para jovens como nós, a Europa da UE abriu portas e modificou vidas. Estudámos em novos países e vimos a nossa qualificação quase sempre reconhecida, viajámos por recreio e busca de conhecimento, assim como de novas oportunidades de emprego, festejámos vitórias conjuntas e momentos de abertura, construímos um ideal que nos permite falar mais do que um idioma num país onde o mesmo não seja natural e recrear (à semelhança dos mundi) um mini mapa real. Hoje tanto temos amigos espalhados por todo o espaço europeu, que já vivenciaram pelo menos uma experiência intercultural, e viajar de mala às costas passou a ser apenas uma alternativa entre muitas. Chegar a uma capital cosmopolita faz-nos mais rapidamente sentir em casa do que num país exterior e a existência de uma série de programas (o Erasmus, o Juventude em Ação, hoje em dia o Erasmus +) continuam a abrir portas, a fazer-nos cidadãos mais informados, esclarecidos, completos e com fome do mundo. As fronteiras já não são o limite. Nós somos o nosso limite. E se Bruxelas for visto como uma das bases deste movimento instigador de descoberta onde residem as instituições que o tornam possível, então Bruxelas é um bocadinho o centro da Europa.
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@ arrotante do momento!:
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